A educação recebeu 78% dos investimentos em projetos sociais no país em 2020, de acordo com o Censo Gife; parte dessa verba vem das instituições financeiras, que há anos batalham pela educação de qualidade no país nesse sentido
por Ana Carolina Lahr
Se até o advento da crise sanitária decorrente da covid-19 os números de matrícula no Ensino Básico – da creche ao Ensino Médio – do Brasil vinham em uma crescente, entre 2019 e 2022 a evasão escolar, um dos grandes desafios na luta pela redução do número de analfabetos no país, progrediu. Dados preliminares do Censo Escolar da Educação Básica 2022, divulgados em setembro do ano passado, revelam que o número de matrículas apresentou queda de 2,07% se comparado aos dados preliminares do ano anterior, totalizando 35.760.081 estudantes cadastrados. No Ensino Médio, a evasão foi ainda maior, com um número de matrículas 5,3% menor que em 2021, caindo de 6.564.625 para 6.217.486.
O estudo Perda de Aprendizagem na Pandemia, produzido em 2021 pelo Instituto Unibanco, em parceria com o Insper, mostrou que os grandes impeditivos para que esses jovens pudessem se dedicar às atividades de aprendizado no pós-pandemia foram a falta de acesso à internet e aos equipamentos necessários para acompanhamento das aulas e práticas on-line e a questão da rotina doméstica, com a ausência de condições adequadas para estudo em casa. Enquanto isso, para os que permanecem no sistema educativo, problemas de infraestrutura dificultaram a segurança sanitária, a aprendizagem presencial e o uso de novas tecnologias.
Os dados conduziram à previsão de que o impacto da pandemia nos alunos que iriam concluir o Ensino Médio naquele ano seria grande, com estudantes dessa faixa chegando ao terceiro ano com proficiência em matemática 10 pontos abaixo do previsto em um cenário estável e com perda estimada de 9 pontos em Língua Portuguesa, por exemplo. No mesmo ano, a Unicef lançou, em parceria com o Cenpec Educação, o estudo “Cenário da Exclusão Escolar no Brasil – um Alerta sobre os Impactos da Pandemia da Covid-19 na Educação”, em que afirmou que o Brasil corria o risco de regredir duas décadas no acesso à educação, sendo as crianças de 6 a 10 anos as mais afetadas.
Em setembro do ano passado, o Ministério da Educação (MEC) divulgou o primeiro retrato do impacto da pandemia no aprendizado de estudantes da Educação Básica de todo o país por meio do Índice de Desenvolvimento de Educação Básica (Ideb). Com um resultado que apresentou piora em todas as áreas avaliadas, as previsões começaram a se fazer verdadeiras.
Banco Mundial
O Anuário Brasileiro de Educação Básica 2021, produzido pelo Todos pela Educação – organização da sociedade civil sem fins lucrativos que propõe e reivindica políticas públicas educacionais capazes de garantir a aprendizagem e a igualdade de oportunidades para as crianças e jovens brasileiros por meio de uma série de ações –, destaca que “as diferentes abordagens para as perdas provocadas pela pandemia na educação reiteram o necessário esforço que os países devem fazer, mais do que nunca, para colocar a escola e a educação no centro das prioridades”.
Com esse pensamento, o governo lançou no ano passado a Política Nacional para Recuperação das Aprendizagens na Educação Básica, projeto apoiado pelo Banco Mundial com um financiamento de 250 milhões de dólares. A verba está sendo direcionada a todas as regiões brasileiras, para as redes municipais e estaduais, públicas e privadas – com ênfase naquelas mais afetadas, como Norte e Nordeste.
A iniciativa é apontada pelo Banco Mundial como uma das principais em âmbito global na área e já serve como modelo para outros países. Seu objetivo é evitar a evasão por dificuldades de aprendizagem ou socioeconômicas. Para isso, destaca a necessidade da adaptação curricular com a definição de marcos de aprendizagem para cada ano escolar. Além disso, incentiva o desenvolvimento de soluções e metodologias que promovam a recuperação das aprendizagens.
Outro pilar dá ênfase à promoção da inclusão digital, uso das tecnologias educacionais e inovação nas instituições de ensino, movimento que resultou na recém-sancionada lei 14.533/23, que instituiu a Política Nacional de Educação Digital (PNED) e coloca a educação digital como dever do Estado por meio da garantia de conectividade à internet de alta velocidade de todas as instituições públicas de Ensino Básico e de Ensino Superior.
A EDUCAÇÃO DE QUALIDADE TAMBÉM PASSA PELAS INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
Os investimentos em projetos sociais têm cada vez mais destaque na agenda da iniciativa privada. Em 2020, o volume total de investimentos privados para projetos de finalidade pública foi de 5,3 bilhões de reais no Brasil; os recursos são mobilizados para o apoio a terceiros, assim como para a execução de projetos próprios. Os dados são do Censo Gife 2021, pesquisa bienal quantitativa, autodeclaratória e voluntária, que fornece um panorama sobre recursos, estrutura, formas de atuação e estratégias das empresas e dos institutos e fundações empresariais, familiares e independentes que destinam recursos privados para projetos de finalidade pública.
Segundo o Censo, a educação recebeu 78% dos investimentos destinados ao tema no período avaliado e parte desses investimentos veio de instituições financeiras que há anos batalham pela educação de qualidade no país com ações sociais.
O Itaú, por exemplo, por meio de seus institutos e fundações, atua há 40 anos em prol da melhoria da educação pública, com foco na transformação social e no desenvolvimento sustentável do país. Com iniciativas próprias, parcerias com o poder público e apoio a projetos em todo o ciclo educacional, desde o Ensino Básico até a educação profissional, a atuação é transversal e contribui para a qualificação de políticas públicas e o fortalecimento da sociedade civil.
“Como maior banco brasileiro, reconhecemos nosso papel como agente transformador da sociedade e incentivador de novos modelos de colaboração em prol de valores fundamentais e do bem-estar coletivo. Por meio de políticas e agendas conjuntas com o poder público e o terceiro setor, temos contribuído, ao lado de nossos institutos e fundações, para gerar impacto positivo na vida de milhares de pessoas em áreas prioritárias, como educação, cultura, mobilidade e longevidade”,
explica o Itaú no levantamento da Cantarino Brasileiro para o Anuário Brasileiro de Bancos 2022.
“Acreditamos que o primeiro passo para reduzir as desigualdades é assegurar a todos e a todas o pleno exercício da cidadania e, nesse sentido, torna-se prioritário investir esforços na melhoria da educação pública em todo o Brasil. Nossos institutos buscam atuar no ciclo educativo completo do cidadão, desde sua formação básica até o preparo para o ambiente de trabalho”.
Por meio do Itaú Educação e Trabalho, a instituição age com o objetivo de contribuir tecnicamente com as Secretarias de Educação no desenho da arquitetura de oferta e elaboração dos currículos estaduais para o Ensino Médio de todo o país. Parte desse trabalho engloba sua atuação com a Frente Currículo e Novo Ensino Médio – liderada pelo Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed) e em parceria com várias organizações da sociedade civil. Além disso, apoia algumas secretarias estaduais de educação na identificação da demanda de recursos humanos, infraestrutura e outros indicadores de custos necessários para a ampliação da oferta do itinerário de formação técnica e profissional no Novo Ensino Médio. Trabalhando de forma conjunta com Secretarias de Educação e de Desenvolvimento Econômico dos estados, oferece também apoio técnico para viabilizar e aprimorar a oferta de
educação profissional e tecnológica para os jovens, proporcionando a eles uma trajetória ascendente e contínua de crescimento profissional e pessoal. Já o Itaú Social desenvolve e implementa iniciativas que têm como foco a formação de profissionais da educação e o fortalecimento da sociedade civil com ações de voluntariado, pesquisas, publicações e monitoramentos, entre outros.
Outra ação diz respeito ao Instituto Unibanco, que desde 1982 apoia a gestão educacional das escolas públicas, oferecendo metodologias e instrumentos que, além de melhorar as condições de aprendizado dos estudantes, contribuem para reduzir as desigualdades entre as instituições de ensino. Entre as iniciativas, é possível citar o Centro de Pesquisa Transdisciplinar em Educação (CPTE), grupo formado por pesquisadores e gestores que produz e analisa evidências destinadas ao aprimoramento das políticas públicas de educação. Por fim, por meio de editais, o instituto concretiza parcerias com organizações da sociedade civil, instituições acadêmicas e de pesquisa, fundos de direitos e justiça social entre outros.
Quer conhecer outras iniciativas? Listamos 25 projetos provenientes do setor financeiro no país que focam na evolução do ensino no país. Para acessar, baixe gratuitamente a revista digital e-CANTA Bancos e Educação. E se quiser se aprofundar ainda mais no tema, participe do webinar Bancos e Educação, que acontece no dia 23 de fevereiro.
