Por João Pedro Brasileiro*
Contas digitais, pagamentos instantâneos, robôs advisors, contratação de empréstimos e de seguros na palma da mão são algumas facilidades que chegaram às pessoas nos últimos anos e transformaram a relação que elas tinham, e ainda têm, com o sistema bancário tradicional. O principal motor dessas inovações foram as startups financeiras, ou fintechs, que além de mudar a maneira de se prestar serviços e de se relacionar com os clientes, conseguiram sacudir o modo como os grandes bancos sempre operaram.
No início, a discussão girava em torno da sobrevivência desses novos entrantes e a questão era saber se eles iriam acabar com os bancos ou se os bancos iriam acabar com eles. Há poucos anos, em um importante evento nacional, em um painel somente sobre fintechs – embora não faça tanto tempo, ainda não existiam unicórnios, e muito provavelmente não mais do que 200 startups financeiras no Brasil – um dos painelistas disse que o banco era um urso e as fintechs abelhas que o rodeavam e atacavam. O urso, com toda a sua força, matava várias dessas abelhas, mas não as destruía, pois existiam as que eram mais rápidas, além das novas que chegavam para o combate.
No entanto, o que se vê hoje são ações, dos dois lados, em busca de sinergias tecnológicas e de formatos mais eficientes de gerir e prestar serviços bancários que vão ao encontro do que o cliente deseja e precisa. Mais ainda, que se antecipem a elas. Assim, surgiram ambientes de inovação em todo o mundo. No Brasil, InovaBra, Cubo, Radar Santander são alguns exemplos de espaços dedicados ao desenvolvimento e interação entre instituições financeiras tradicionais e startups. Existem ainda competições, desafios, aportes, aquisições, contratações. Tudo para impulsionar a criatividade e a transformação das ofertas bancárias e criar espaços de inovação aberta, chamadas de open innovation.
Esse conceito, desenvolvido pelo professor da Universidade de Berkeley – EUA, Henry Chesbrough, introduz formas de se pensar a gestão da inovação nas empresas tradicionais de maneira ampla e aberta, passando pela cultura, interação com o meio externo, investimento em pesquisas etc. Em contraposição ao que Chesbrough observou em 2003 nessas companhias americanas que, mesmo em um contexto de avanço tecnológico, mantinham estruturas fechadas, hierarquias rígidas que engessavam os processos criação e de resolução de demandas.
A relação dessas companhias com startups é uma das possibilidades deste conceito, que toma ainda mais fôlego com a crescente adesão de consumidores e de organizações ao mundo conectado em rede. Foi assim que os desafios dos grandes bancos que antes giravam em torno de se proteger de novos entrantes, inclusive com a criação de barreiras, hoje se transformaram na busca por capacidade de se relacionar com o mundo externo de maneira saudável e sustentável. Foi assim que fintechs e startups deixaram de ser vistas como ameaças e se tornaram potenciais parceiros para o crescimento.
Mesmo porque, no setor bancário, as fintechs ganharam espaço no mercado e provaram que seu processo de inovação trouxe impacto positivo para a população, inclusive com a oferta de produtos e serviços para desbancarizados. Para se ter uma ideia, de acordo com o Fintech Mining Report 2019, elas somam hoje, no Brasil, 550 empresas. O surgimento e o crescente avanço das fintechs e de startups em geral, com sua maneira revolucionária de resolver problemas, criar e transformar soluções, acendeu a luz vermelha na sala de comando das instituições tradicionais, que passaram a observar mais atentamente esse movimento.
A parceria foi o caminho viável e produtivo tanto para os grandes bancos como para as fintechs. De um lado, aqueles ansiavam por inserir essas novas ideias em seus processos internos e do outro, as startups precisavam de investimentos, de acesso à rede de distribuição e à base de clientes, do conhecimento e experiência dos bancos tradicionais.
As possibilidades dessa relação banco x fintech (ou empresa x startups ou tradicional x novo) podem ser diversas: contratação, aquisição, investimento ou aceleração de startups. Quando essa relação é bem estruturada, os benefícios gerados para ambos são muitos. A empresa abre uma nova frente de inovação, mais rápida e com custo inferior às despesas de P&D, interage com mentes criativas e leva o cerne da inovação para dentro da organização, melhorando, entre outros fatores, o employer branding. O que, em tempos de escassez de profissionais qualificados especialmente em tecnologia da informação, é um grande trunfo.
A startup, por sua vez, passa a ter acesso a um novo mercado e a conhecimentos já adquiridos pela organização; cria um case de cliente e reduz a necessidade de capital próprio para desenvolvimento de novos produtos.
O próximo passo é ampliar o escopo desse relacionamento e diminuir os atritos depois que as parcerias são fechadas.
* João Pedro Brasileiro é o idealizador do Innovation Awards Latam, competição internacional de startups de diversos segmentos que conecta empresas tradicionais e entrantes.