Estudo da Boanerges & Cia., consultoria especializada em varejo financeiro, registra queda real de 4,1% dos gastos dos lojistas com taxas de cartões, na comparação com 2015. Este é o segundo ano consecutivo com queda real. A análise também identificou queda real (descontada a inflação) do faturamento das vendas parceladas no cartão desde o início da crise, em 2014. Além disso, o número de maquininhas caiu pela primeira vez na história, em 2016. Desde 2008, no entanto, o volume de compras com cartão de crédito e débito aumentou, atingindo 27,5% do consumo das famílias no ano passado, em comparação com 27,1%, em 2015.
O consultor da Boanerges & Cia., Vitor França, enumera algumas razões para a queda dos gastos dos lojistas: a taxa paga para a maquininha em venda no cartão de crédito, principalmente a parcelada, é mais cara para o lojista se comparada com as de uma única parcela (cerca de 2,7%), que por sua vez, é mais cara no débito (cerca de 1,5%). “Além disso, tem a questão do prazo de recebimento, quando vende no débito, ele recebe em dois dias; no crédito, em 30 dias e no parcelado, recebe junto com o pagamento da parcela, de 30 em 30 dias. Muitas vezes, para ajustar o fluxo de caixa, ele tem que adiantar esse recebível, então, é um dinheiro que se gasta com os juros da antecipação,” explica França.
Outro motivo é a queda propriamente das taxas. De 2011 a 2015, a porcentagem cobrada na venda com cartão de crédito estava estável. No ano passado, houve queda em virtude do aumento da competição. “Até 2015, havia exclusividades entre bandeiras e credenciadoras. Para não perder venda, muitas vezes, o lojista tinha que ter mais de uma dessas maquininhas, o que criava um obstáculo de competição. O Banco Central quebrou essas exclusividades.”
O acirramento da concorrência é outro fator. Com a circular do Bacen, muitas credenciadoras que estavam entrando no mercado, puderam competir de igual para igual com as grandes, o que derrubou a taxa. “Esse é outro fator que ajuda a entender porque os lojistas gastaram menos com cartão. E a competição tende a aumentar,” alerta França. A entrada do banco Safra no segmento de adquirência e os subadquirentes que atingem regiões mais distantes demonstram esse acirramento da competição, “o que é favorável para os lojistas porque passam a se deparar com taxas menores.”
Segundo França, o fechamento de estabelecimentos, a redução de custos dos lojistas e a preocupação das famílias com o endividamento por conta da crise mudaram o cenário, com o incentivo do uso do cartão de débito, que é mais barato. “Por outro lado, os bancos estão mais restritivos nos limites que disponibilizam no cartão de crédito. Com limite menor, vemos queda nas vendas parceladas em detrimento de um aumento nas vendas no débito,” explica o entrevistado.
A análise da Boanerges & Cia foi feita com base nas estatísticas de pagamentos de varejo e de cartões no Brasil, divulgadas pelo Banco Central do Brasil (BCB). A consultoria calculou a taxa média paga pelos estabelecimentos comercias nas vendas com cartão de crédito e débito e o total de gastos com as taxas dos cartões.
O gasto total dos estabelecimentos comerciais com as taxas de cartões de crédito e débito, por sua vez, atingiu R$ 24,4 bilhões no ano passado (R$ 17,8 bilhões no crédito e R$ 6,5 bilhões no débito), queda real de 4,1% na comparação com 2015. Trata-se do segundo ano consecutivo em que as despesas dos lojistas com as taxas dos cartões registra queda real.