crédito estudantil

Crédito estudantil abre oportunidades para a evolução da educação

| por Ana Carolina Lahr |

Tida como a riqueza de qualquer nação, a educação ainda tem muito a ser desenvolvida no Brasil, seja no âmbito público ou no privado. Nesse caminho, muitas iniciativas podem contribuir com a sua evolução, entre elas, aquelas provenientes do sistema financeiro, como o acesso ao crédito estudantil, já que a falta de verba ou crédito para arcar com toda a infraestrutura – e, mais precisamente no âmbito particular, com a inadimplência – é um dos grandes entraves do setor. 

Sob essa premissa, o crédito estudantil foi o tema condutor do painel As oportunidades da evolução do sistema educacional no Brasil, apresentado durante o Webinar Bancos e Educação, na quinta-feira (24/2), na trilha inédita da Cantarino Brasileiro.

Em uma pesquisa que realizei há alguns anos a fim de identificar a prioridade de pagamento de cinco ou seis itens, a educação foi a última listada. É uma realidade dolorosa e que, de uma certa forma, é explicada pela falta de ações. Por exemplo, quando você tem um empréstimo pessoal, um cartão de crédito, você bloqueia se negativa e aquilo muitas vezes é o fator que gera o pagamento. Em uma universidade, você não bloqueia a catraca e não impede o aluno de fazer a prova. Existe essa característica e aí você acaba alongando a dívida, introduziu o mediador Eduardo Tamberllini, especialista em risco, com foco em cobrança e recuperação de crédito. 

Com essa experiência pessoal, o mediador teve por intenção mostrar que o segmento tem desafios únicos e necessidades que vão além de um produto financeiro, ainda que se falando de crédito. Para ampliar a visão, ele convidou: Caio Noronha, CFO da edfintech EducBank; Beto Dantas, CIO da Pravaler; e Bianca Tibúrcio Vaz Costa, head of ventures da ClearSale

Em frente distintas, os três executivos, que bastante têm contribuído com o aprimoramento do acesso ao crédito no setor, fomentaram uma discussão com algumas respostas, mas muitas interrogações que ainda podem ser respondidas pelo mercado com atitudes disruptivas. Acompanhe os principais insights!

Educação de base

Os convidados lançaram um olhar especial para a Educação Básica, recorte que norteou o desenvolvimento da Trilha Bancos e Educação. “Eu acho que é um direito de todo mundo estudar, fazer faculdade. É mais uma opção, mas não é o único, acredito. Mas, sempre achei que faltava na política do governo um pedaço que era um tijolo da base, que é a educação fundamental”, provocou o mediador.

Bianca corroborou com o ponto de vista compartilhando sua experiência como mestranda e a possibilidade de observar de perto a importância do preparo, tanto das faculdades, em termos de infraestrutura, quanto dos alunos, em todo o seu caminho pela educação para chegarem preparados na graduação:

“É de extrema importância oferecer não somente orientação financeira, mas também orientação do mercado. Permitir que essas pessoas que estão saindo do Ensino Médio entendam quais as perspectivas de opções de formação e assim por diante”. 

A provocação caiu como uma luva para o EducBank, já que a edfintech nasceu justamente da ideia de que essa parte da educação é o principal ativo para o desenvolvimento de uma nação e por isso proporciona apoio financeiro aos mantenedores de escolas privadas de ensino básico no país. 

Depois de uma breve reflexão sobre as dificuldades enfrentadas pelos mantenedores (assunto sobre o qual você pode aprofundar aqui), Caio Noronha falou sobre os propósitos da EducBank: “Através de produtos financeiros, a gente consegue que o dono de escola eleve a qualidade do ensino e, além disso, consiga proporcionar um ensino com preço mais acessível. Assim, a gente quer expandir cada vez mais a educação de qualidade de ensino básico no Brasil”.

Ele reforçou a ideia de que é preciso conhecer e investir no caminho da educação antes do ensino superior fazendo coro ao discurso do co-fundador da EducBank, Danilo Costa, em entrevista à revista digital e-CANTA Bancos e Educação: “Não existe nenhuma democracia no mundo que se desenvolveu e se consolidou sem a educação básica. Também, não existe nenhuma democracia que se desenvolveu sem acesso ao capital”.

Reforçando a necessidade de se investir na educação de base, Beto aproveitou a oportunidade para falar um pouco sobre o projeto piloto do Pravaler que envolve o financiamento estudantil para alunos do ensino médio, que acaba de ser lançado. “Dando tudo certo, a gente conseguirá fazer a progressão desse aluno do ensino médio até a universidade. A gente entrega uma vida útil maior para o aluno”, comemorou, salientando que existem, sim, ferramentas que apoiam a educação em todos os sentidos.

Na continuidade dessa lógica, foi levantada também uma breve reflexão sobre as oportunidades de crédito para o ensino técnico, uma frente que já é contemplada pelo Pravaler, segundo Beto. “Mas ainda é não muito culturalmente enraizada. Querendo ou não, você tem uma disparidade salarial enorme do aluno graduado e não graduado”, avaliou, olhando para a operação do mercado, “além disso, culturalmente, no Brasil, ainda é muito forte o compromisso de se entregar a uma graduação desde o âmbito familiar”. 

Para Caio, apesar do enraizamento, o mercado tem se aberto às novas possibilidades. “Tem algumas teses bacanas no mercado que a gente pode ficar de olho aí, acompanhar”, instigou.

Análise de crédito estudantil x inadimplência

Corroborando com a afirmação inicial do mediador de que o sistema de crédito estudantil vivencia diferentes desafios quando comparado ao mercado financeiro tradicional, o CIO do Pravaler adicionou que as necessidades do segmento têm se transformado ao longo dos anos. Como exemplo, apontou o movimento gerado pelo EAD (Ensino a Distância), que trouxe uma democratização do acesso ao ensino superior em termos territoriais e também financeiros. 

“Hoje, temos universidades a preços compatíveis e que cabem no bolso de todo mundo, com facilidades de pagamento diferente do que era antes. O grande ponto agora é que a gente entende que o aluno muitas vezes não faz o curso que quer, mas sim o curso que pode fazer naquele momento, que pode pagar. Isso leva esse aluno para a evasão. Então, hoje, o financiamento estudantil fomenta o sonho do aluno de fazer a universidade que ele quer fazer. Essa é uma discussão super relevante”, instigou. 

Tamberlini observou que, por maior que tenha sido o crescimento da carteira de crédito no país desde o lançamento do plano Real, o Brasil ainda engatinha neste assunto. “O crédito representa hoje 54% do PIB, enquanto em países como Estados Unidos, Japão, Chile e Alemanha, ele supera 100% do PIB”, pontuou. Ele lembrou que, junto ao crédito, caminha o endividamento e a inadimplência. 

“Há diversas questões envolvidas: a evasão, o interesse, as notas e o envolvimento. Isso gera a necessidade de uma análise de crédito bem diferenciada. É muito importante, por exemplo, passar orientações não só para a pessoa que tem que escolher seu curso, como entender a sua situação financeira e também da sua família”, complementou Bianca. A inadimplência é uma preocupação que pretende ser resolvida pelo recém-lançado produto da ClearSale voltado para cobranças, que visa auxiliar as operações nas empresas.

Disrupção

Caio salientou que, para atender à demanda do setor educacional, é necessário ser disruptivo.

Para a gente conseguir aumentar esse percentual do PIB em crédito e conseguir atender melhor ao setor, a gente precisa ter pessoas e empresas capazes e com a vontade de analisar crédito de uma forma diferenciada”.

Uma característica que, para o executivo, é muito presente na Pravaler; passos os quais o EducBank vem seguindo no seu segmento. 

“Dar o crédito é uma ciência composta de tantos fatores e tem tanta inteligência envolvida que por mais que a gente tenha 20 anos de atuação, todos os dias a gente aprende”, admite Beto. 

Para ele, mesmo fazendo parte de um case considerado de sucesso, a missão de “dar crédito” é algo muito difícil devido ao alto risco de inadimplência. “Quando você dá um crédito geral, fica num universo onde obviamente não consegue ser tão assertivo. Mas quando você está no ramo, olha para o perfil do estudante e consegue analisar de acordo com as escolhas que ele faz a ponto de entregar o que realmente ele pode pagar, isso se torna a grande ciência do nosso processo”, avaliou.

A forma evoluída como o crédito é concedido pela Pravaler ainda é, para ele, a grande riqueza da empresa: “Essa análise é muito criteriosa, por isso a taxa de inadimplência do Pravaler é menor do que as taxas de inadimplência da universidade, muitas vezes”. Todo o esforço é movido por um grande senso de responsabilidade:

“Quando a gente dá um crédito errado para uma pessoa que não consegue pagar, a gente está impactando essa família. Então, a nossa responsabilidade é dar o crédito correto”.

Open finance

A audiência indagou os convidados sobre a relevância do open finance na análise de crédito. A resposta foi unânime: existem profissionais olhando para as oportunidades, mas o uso efetivo ainda é embrionário. 

Estamos engatinhando. Ainda tem muita coisa pela frente para entender como funciona, os benefícios, e encaixar isso com os produtos”, concluiu Bianca. 

“A gente tem que estar atento o tempo todo a todo o tipo de nova tecnologia. A gente também está olhando com carinho, mas estamos engatinhando frente a tantas outras oportunidades que os nossos algoritmos hoje estão construindo. Em pouco tempo acredito que esses dados vão ser mais utilizados pelas empresas de uma forma eficiente”, opinou o executivo da EducBank.

Na Pravaler, a evolução do sistema financeiro brasileiro também é vista como uma oportunidade de melhoramento. “Quando a gente consegue fazer o cruzamento da parte financeira com o engajamento do aluno, a gente se torna cada vez mais assertivo na nossa missão de conceder crédito. Então, tudo o que se abre de oportunidade, a gente coloca dentro do nosso modelo para tentar ser cada vez mais assertivo e legal”, finalizou Beto.

Indo além

Dentre as inúmeras variantes na avaliação da concessão do crédito e risco de inadimplência, o CIO do Pravaler destacou duas variantes que recebem especial atenção.

Primeiro, a importância de se expandir o olhar para o aluno no mercado de trabalho, visto que essa é uma das variantes que contribui com melhores índices de inadimplência. Ele destacou a recente aquisição da  Workalove, que permite que seja feita uma progressão de carreira ao aluno; e a incorporação da Jobis, onde incorporamos uma tecnologia que auxilia o aluno a conseguir o seu primeiro emprego, o seu estágio ou melhorar o seu emprego”.

Segundo, mas não menos importante, o fomento às instituições de ensino por meio das melhorias na infraestrutura. Em 21 anos de atuação, a Pravaler já beneficiou quase 300 mil estudantes e investiu 8 bilhões de reais fomentando o crédito educacional e as instituições de ensino.

“Eu gostaria muito de ver as universidades investindo nos seus campos, em laboratório, em tecnologia, fazendo com que os alunos voltem a ter aquela sensação, aquele amor, aquela vontade de estudar. Eu sou um romântico da educação nesse sentido”, admite Beto.

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Reveja o painel no CANTAtube.

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