por Ana Carolina Lahr (atualizado em 4/2/23)
Nas últimas semanas duas notícias ganharam especial atenção na mídia: a demissão em massa da Me Poupe! e o Chat GPT. E, quando menos esperávamos, esses universos se cruzaram!
Isso mesmo. Ontem, em vídeo no Linkedin, Nathália Arcuri, fundadora e CEO da Me Poupe!, se defendeu dos ataques que vêm recebendo sobre a demissão e das chacotas acusando a empresa de má administração financeira. Na gravação, ela lamentou a postura e reforçou o argumento anteriormente divulgado de que a demissão tratou de um reposicionamento estratégico do negócio e não do caminho para a falência.
No meio desse discurso, a novidade: (…) a Me Poupe está se direcionando para um novo caminho. Nós viemos até aqui com conteúdo e produtos de educação e nós vamos seguir daqui para frente com conteúdo de Inteligência Artificial, web3, ChatGPT e tudo aquilo que existe de mais novo (…).
O propósito da mudança de plano de negócio, segundo ela, é oferecer conteúdo gratuito e proporcionar oportunidade de educação financeira para muito mais pessoas, e em situações mais vulneráveis das que são atendidas hoje, no formato de cursos pagos. Mas, para além dessa justificativa, nossa atenção se concentra agora na frenesi gerada pelo Chat GPT.
Ao anunciar que esse será o direcionamento do seu novo modelo, a empresa voltada à educação financeira parece ter saído de uma polêmica para entrar em outra.
O ChatGPT é um chatbot lançado pelo grupo de pesquisa OpenAI, uma empresa de pesquisa em inteligência artificial fundada em 2015 por Sam Altman e Elon Musk, entre outros. Em suma, estamos falando de uma tecnologia com base ampla e altamente sofisticada que oferece respostas semelhantes às humanas. O produto foi lançado em novembro do ano passado e acabou ganhando a cena, alcançando mais de um milhão de usuários em uma semana.
Vale lembrar, porém, que esse é apenas um dentre diversos modelos de inteligência artificial generativa – robôs capazes de gerar conteúdo a partir de comandos em linguagem natural – já disponíveis no mercado.
“A ideia do Chat GPT é fantástica não porque seja revolucionária. O diferencial é que através dele, a ideia se popularizou e se tornou acessível às massas. De repente, a maneira como interagimos com a inteligência artificial se tornou acessível e natural a qualquer pessoa e é possível entender qual seu potencial extraordinário de transformar nossas vidas”, considera o futurista Gui Rangel.
Segundo o estudo “Avanços na cultura organizacional baseada em dados, analytics e IA”, realizado pelo IDC a pedido do SAS, divulgado no ano passado, o Brasil é o país que mais usa inteligência artificial (IA) na América Latina. No território nacional, 63% das empresas utilizam aplicações baseadas nessa tecnologia, ante uma média de 47% em toda a região. Os setores mais avançados em soluções de IA são o financeiro, o varejo e o de manufaturas. Atualmente, as aplicações de IA mais utilizadas na América Latina são de vídeo em computador (48%) e automação de processos de tomada de decisão (47%). Na sequência, também acima dos 40%, aparecem gráficos de conhecimento (44%), reconhecimento de texto (44%), detecção de anomalia (43%), Internet das Coisas (IoT) – (42%) e reconhecimento de áudio e voz (41%).
Mesmo o movimento liderado pelo ChatGPT não sendo recente, ele serve para atiçar as reflexões sobre o uso da IA nas mais diversas esferas. Em torno da sua surpreendente atuação, uma antiga preocupação – já vivida pela indústria – entrou em questionamento. Desta vez, ameaçando não o operário, mas a propriedade intelectual: estaria a profissão dos produtores de conteúdo ameaçada pela inteligência artificial?
No âmbito da comunicação/marketing, o site de notícias também americano CNET havia adotado a estratégia mas teve que interromper o uso depois que alguns artigos foram publicados com erros básicos de apuração e sem identificação clara de que foram gerados por IA. Mais recentemente, a empresa de mídia norte-americana BuzzFeed assumiu o risco e anunciou uma parceria com a OpenAI, para usar o ChatGPT na criação e aprimoramento do seu conteúdo.
Mesmo com imprecisões, especialistas que já têm na IA grandes perspectivas para o setor financeiro, demonstram entusiasmo com a evolução tecnológica.
Considerando que a ferramenta foi liberada ao público em novembro e que já produz resultados surpreendentes – e que quanto mais as pessoas a usam, melhores serão os resultados –, não vai demorar para que a gente veja soluções surpreendentes nesse setor. Estamos em um momento onde as lideranças já entenderam que há um potencial muito grande. Já observo um movimento para atrelar essa e outras inteligências artificiais para aprimorar o atendimento e criar novas soluções em cima dela, enfatiza Bruno Diniz, especialista em inovação no setor financeiro e sócio da Spiralem Innovation Consulting.
“Você consegue educar com base em contexto, ao invés de oferecer um monte de pílulas diárias para o consumo sendo destinadas não necessariamente a quem precisa”, conclui.
“Não há dúvidas de que a IA consiga gerar experiências customizadas disponíveis 24h por dia, 7 dias por semana, tanto para os clientes quanto para os colaboradores. A sua capacidade de gerar valor está inserida num contexto tanto de soluções de problemas já presentes, melhorando os produtos, como até gerando novos produtos, serviços e ideias, pois a inteligência generativa tem a possibilidade de ir muito além das nossas convenções”, completa Rangel.
“Claro, ainda tem muito caminho pela frente, porque a complexidade do sistema financeiro é maior que em outros campos. O grande desafio que vejo para que ela seja aceita dentro do ecossistema financeiro é que se torne mais robusta, confiável e em linha com o arcabouço regulatório que define o sistema financeiro já que, como ela é treinada com uma base de dados bastante diversificada, pode fornecer informações não necessariamente confiáveis, o que mina completamente a percepção de valor que ela pode entregar”, finaliza.
Você já fez a sua aposta?