Blockchain, bitcoin e criptomoedas: novos meios?

Foi no final de 2008 que tudo começou. Assim, passaram-se pouco mais de oito anos e muito se tem falado sobre esse engenhoso sistema desenvolvido para funcionar de forma totalmente descentralizada (peer-to-peer) visando à troca de ativos financeiros sem a necessidade de processadores e validadores intermediários.

Assim nasceu o bitcoin, que, podemos dizer, esteve por trás da gênese de uma nova tecnologia baseada em cálculos matemáticos e criptografia de alto nível, tendo como seu principal processo um mecanismo de registro de transações gravadas em bloco e encadeadas em sequência, sendo esses registros verificados e validados pelos participantes da rede por meio de consenso. Por serem imutáveis e auditáveis, tais registros geram confiança entre agentes que não se conhecem, evitando o “double-spending” ou duplo gasto e, o melhor, sem a necessidade de controle e validação centralizados, que geralmente representam altos custos de infraestrutura e segurança.

Foi com base no conhecimento desse mecanismo que se criou o nome blockchain, designação que não estava originalmente no texto publicado em outubro de 2008, assinado com o pseudônimo Satoshi Nakamoto, mas que o mercado passou a adotar como padrão para definir sistemas baseados nesse mesmo protocolo de funcionamento. Podemos assim afirmar que o bitcoin foi precursor da primeira grande ruptura em relação ao modelo tradicional de trocas financeiras desde a evolução, ocorrida anos atrás, do meio de pagamento manual para o eletrônico. Comprovou-se assim que o sistema poderia ser utilizado não somente para a criptomoeda bitcoin, mas como mais uma alternativa aos meios de pagamento atuais, com novas possibilidades de processamento, disponibilidade e segurança, além de custos menores.

A partir do início de 2015, o mercado, especialmente o financeiro, passou a olhar mais detalhadamente a tecnologia por trás do bitcoin, artigo 101 percebendo que existiam avanços e possibilidades de uso que iam muito além de uma moeda digital inicialmente associada a transações obscuras na deep web e restrita ao público geek.

Mas foi somente em 31 de outubro de 2015, após a publica- ção, pela revista The Economist, da matéria “The Promise of the Blockchain – The Trust Machine”, que muitas empresas e pessoas descobriram que essa tecnologia poderia ser usada para outros fins que não o registro de transações financeiras, servindo para comprovar posse, autenticidade e registro de “time stamp” de forma totalmente distribuída e confiável.

Mas a evolução não ficou restrita a transações financeiras, registro de autenticidade e alternativa para os meios de pagamento. Em 2013, um programador e escritor de pouco mais de 19 anos chamado Vitalik Buterin propôs um novo sistema baseado nos mesmos princípios do blockchain do bitcoin, mas com a possibilidade de programar determinadas regras e desenvolver contratos inteligentes, os chamados “smart contracts”, dentro do blockchain, aumentando suas possibilidades de uso para diversos segmentos. Esse projeto foi denominado Ethereum.

A partir do Blockchain Ethereum, muitas outras indústrias, além da financeira, iniciaram suas pesquisas e testes. Deu-se então o desenvolvimento de novos blockchains para atender determinados o bitcoin foi precursor da primeira grande RUPTURA em relação ao modelo tradicional de trocas financeiras anuário brasileiro de canais de pagamento e cartões 102 2017 será um ano de aprendizado e de disseminação das possibilidades de uso da tecnologia blockchain nos diversos setores produtivos setores ou processos específicos de forma pública ou privada. Nesse esforço, podemos destacar os projetos da IBM com a HyperLedger, da Visa com a Chain.com, da R3CEV com a Corda e o da empresa Ripple, que desenvolveu um blockchain específico para transações de meios de pagamento internacionais.

Em nossos dias, a tecnologia blockchain tem sido amplamente testada em diversos mercados e segmentos além do financeiro, sozinha ou combinada com outras tecnologias, como IoT, machine learning, BOT’s e big data, que aumentam as possibilidades em diversos serviços, como logística, identidade, propriedade e compliance.

Em relatório sobre os benefícios do uso de blockchain chamado “The Future of Financial Infrastructure: An Ambitious Look at How Blockchain Can Reshape Financial Services”, publicado em 2016 no Fórum Econômico Mundial e desenvolvido em conjunto com a Deloitte, afirma-se que, até 2027, 10% do produto interno bruto (PIB) global estará armazenado na tecnologia blockchain.

Nessa mesma linha, segundo estimativa feita por um grande banco mundial, os bancos poderão economizar até 20 bilhões de dólares por ano com gastos de back-office e infraestrutura associados a cross-border payments, securities trading e compliance.

Novos meios?

Segundo Marc Andreessen, pioneiro na era da internet e um dos fundadores da Netscape, “o blockchain é a mais importante invenção desde a internet. Esta última mudou o jeito que transferimos informações. O blockchain está transformando a maneira como transferimos valor”.

Não há dúvida de que as novas tecnologias blockchain, bitcoin e de criptomoedas representam uma mudança no cenário das transações financeiras locais e globais, permitindo uma oferta de meios de pagamento totalmente descentralizados, seguros e com custo menor por adesão e transação. Junte-se a esse novo momento o desenvolvimento e o crescimento das fintechs, fundamentais para gerar alternativas na inovação em serviços e produtos financeiros.

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Ainda existe um longo caminho a ser percorrido para que essa tecnologia esteja presente em nossa vida no dia a dia, mas ele foi iniciado e deve ser sem volta. Para se ter uma ideia, o mesmo relatório publicado pelo Fórum Econômico Mundial prevê que 80% dos bancos no mundo estão pesquisando, montando equipes internas, realizando PoCs – provas de conceito – e testando o uso do blockchain em diversos produtos e serviços.

No Brasil, 2017 será um ano de aprendizado e de disseminação das possibilidades de uso da tecnologia blockchain nos diversos setores produtivos e no qual surgirão as primeiras provas de conceito.

Nesse cenário, podemos concluir que o país passa por um momento único de grandes mudanças e ambiente favorável de colaboração entre empresários e autoridades empenhados na busca de alternativas e inovações para o mercado de meios de pagamento. Esse trabalho em sintonia poderá abrir de vez uma janela de oportunidades para enfim possibilitar a democratização e facilitar o acesso de uma grande parte da população brasileira aos serviços financeiros.

 

Esta matéria especial é parte do conteúdo disponível no Anuário Brasileiro de Bancos 2017. Caso queira ter acesso à outros conteúdos da publicação, acesse: Anuário Brasileiro de Bancos ou baixe nosso aplicativo, disponível para iOS e Android. É grátis!

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