Marcos Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), fala sobre as oportunidades e os desafios trazidos pela transformação digital e pela possibilidade de integrar serviços financeiros a seus portfólios de forma cada vez mais simplificada
Por Ana Carolina Lahr
Responsáveis por toda a arrecadação dos recursos de pagamento da cadeia produtiva – geração de energia, transmissão, distribuição, recolhimento de encargos e tributos –, as distribuidoras de energia elétrica vivem um grande desafio operacional, já que passam pelo setor hoje em torno de 170 bilhões de reais ao ano.
A observação vem de Marcos Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), para quem a transformação digital já se apresenta como grande aliada. “A criação de mecanismos que possam facilitar essa operação pelos dois lados, tanto do ponto de vista de quem está captando esses recursos, no caso a distribuidora, como para quem está pagando, que são os consumidores, é muito bem-vinda”, destaca.
Madureira acrescenta que o momento é bastante propício para a inovação, já que o setor encara uma mudança “quase disruptiva” do modelo de negócio, algo que vem se consolidando gradualmente no Brasil desde 1995, com a publicação da Lei 9.074/1995 e a consequente abertura do mercado livre de energia. A expectativa é de que em pouco tempo haja um crescimento expressivo na oferta do mercado livre de energia mirando os pequenos negócios. “Estamos falando de um potencial de aproximadamente 87 milhões de consumidores nos próximos anos. Diante dessa possibilidade, prever a criação de novos mecanismos para efetuar o faturamento, que envolvem uma nova cadeia é um desafio”, destaca, fazendo alusão ao fértil ambiente das startups e fintechs.
Para ele, embora a digitalização do setor já esteja sendo absorvida de forma intensa na modernização dos serviços prestados, ainda há oportunidades pela frente, em especial no que diz respeito à relação com o setor financeiro. Além da evolução dos meios de pagamento, que já facilitam a arrecadação das distribuidoras, o presidente da associação aposta nos seguros: “Você começa a ter um controle de inadimplência mais complexo, com mais agentes se envolvendo nesse procedimento, algo que hoje ainda fica centralizado na distribuidora”.
O desenvolvimento de novas modelagens de crédito, baseadas nas informações do setor – como tem sido facilitado pelo cadastro positivo – é outra oportunidade apontada. “O mecanismo que a distribuidora tem para fazer o recebimento em casos de inadimplência ainda é, muitas vezes, o corte do fornecimento de energia elétrica. Mas essa eu diria que deveria ser a última ação a ser tomada já que estamos falando de um processo caro porque traz problemas na relação com o consumidor. Criar mecanismos para ajudar nessa situação seria muito interessante”, opina Madureira.
“O momento é adequado para se criar ou agregar novos negócios ao core business das distribuidoras. Sejam eles financeiros ou não, encontrar formas de aumentar a rentabilização é uma maneira de dar uma maior sustentabilidade para o negócio.”

Nesse caminho, o apetite pela inovação de players vanguardistas como a Energisa já leva ao mercado casos com resultados inspiradores. A Voltz, braço financeiro da distribuidora criado em 2020, lançou recentemente um score de crédito customizado que usa ferramentas analíticas de big data e aprendizado de máquina para gerar informações perspicazes sobre o comportamento de pagamento de sua base. Como resultado desse investimento, a fintech já consegue tornar o acesso ao crédito mais inclusivo para a parcela da população desbancarizada, mas que faz uso de serviços como energia.
A iniciativa vanguardista dá também o primeiro passo rumo à resolução de um outro desafio do setor: a criação de novos canais de rentabilização. Afinal, o score identifica não apenas os devedores, ofertando melhores condições de parcelamento, mas também os clientes com melhores indicadores, permitindo a oferta de produtos como linhas de crédito mais competitivas. Ao desbloquear o potencial, as utilities vislumbram formas de utilizar de forma responsável suas bases e ofertar produtos mais assertivos.
O próximo passo da Voltz é melhorar a indústria de utilities, beneficiando a sociedade de forma mais holística ao permitir que o score seja aplicado à base de quaisquer concessionárias de energia elétrica, gás ou até de saneamento básico.
“Temos um mercado que a cada dia busca criar mais facilidades para o consumidor”, observa Madureira, confirmando que o momento é adequado para se criar ou agregar novos negócios ao core business das distribuidoras. “Sejam eles financeiros ou não, encontrar formas de aumentar a rentabilização é uma maneira de dar uma maior sustentabilidade para o negócio de distribuição de energia elétrica”.
