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Banking anywhere: o ponto de convergência dos diversos setores da economia

Transformação digital contribui com a missão compartilhada de gerar jornadas cada vez mais fluidas para o consumidor
Por Ana Carolina Lahr
No ecossistema financeiro, a integração com os demais setores da economia se estabelece como uma macrotendência sustentada em duas estratégias: o embedded finance e o beyond banking. O processo de mão dupla é definido pela Cantarino Brasileiro como “banking anywhere”.
Para Edson Luiz dos Santos, consultor da Colink, a interconexão entre diferentes indústrias por meio dessas estratégias está redefinindo a forma como as instituições financeiras operam e como os clientes interagem com o universo financeiro. “Essas duas tendências se conectam de maneiras poderosas. Enquanto o embedded finance permite que empresas de setores não financeiros alcancem os clientes com serviços financeiros relevantes e contextualizados, a estratégia beyond banking coloca os bancos em uma posição privilegiada para oferecer esses serviços diversificados de forma conveniente e acessível, independentemente do local onde o cliente esteja”, explica. 
Embora o conceito das “finanças embutidas” não seja uma novidade – os primeiros movimentos desse tipo aconteceram na década de 90 no Brasil, por meio do varejo –, a partir de 2013 ele ganhou outro impulso, com as regulações criadas pelo Banco Central, as quais flexibilizaram as estruturas necessárias para que novos entrantes pudessem ofertar serviços financeiros de maneira segura, aumentando a competição entre os agentes e a qualidade dos serviços prestados.
De lá pra cá, elas só têm se fortalecido. Um estudo da Deloitte, publicado no ano passado, mostra que setores como varejo, bens de consumo e outros serviços – que movimentam parcela expressiva do Produto Interno Bruto (PIB) – podem gerar, juntos, uma receita de 24 bilhões de reais em 2026 se aderirem à estratégia do embedded finance, ou seja, se ampliarem a oferta de serviços financeiros para suas bases. Desse total, cerca de 10 bilhões de reais podem vir de economias geradas por se tornarem autossuficientes.
A análise levou em consideração duas principais fontes de receita: as relacionadas à oferta de crédito aos consumidores finais e as provenientes de outros serviços financeiros ligados a guarda, captura e transferência de valores, como conta de pagamento, adquirência, investimentos, Pix, boleto etc. “Estima-se que esses setores sejam responsáveis pela oferta de crédito de até 83 bilhões de reais em 2026, valor que hoje os clientes buscam em instituições financeiras tradicionais ou que não é explorado por falta de oferta compatível dentro do mercado”, afirma o relatório.

“Fintechzação” da economia

O estudo da Delloite destaca também que o embedded finance atrai dois grandes tipos de investimento, criando oportunidades para a indústria financeira se reinventar: “Há um investimento em fintechs e em outras techs que desenvolvem componentes que podem ser embutidos em empresas não financeiras, e há o investimento direto em empresas não financeiras que possuem uma proposta de valor capaz de permitir uma oferta agregada de serviços financeiros direta a seus clientes, que pode ser feita por desenvolvimento direto ou por contratação dos serviços ofertados pelas empresas do primeiro grupo”.
Nesse cenário, destaca-se a infraestrutura eficiente e simplificada proporcionada pela tecnologia Banking as a Service (BaaS), responsável por instituir um jargão já bastante popular no ecossistema financeiro: a “fintechzação” da economia. “A modernização da regulação, aliada ao surgimento de modelos de negócios flexíveis e digitais, permitiu o surgimento de soluções focadas na experiência do cliente, facilitando o fluxo financeiro dos negócios. A ‘fintechzação’ nada mais é que a simplificação dessas jornadas. Mais que uma tendência, é uma exigência dos clientes na medida em que viabiliza a entrega de soluções financeiras de forma conveniente e sem fricção”, observa Carlos Oliveira, diretor executivo da ABFintechs. Para ele, a motivação desse movimento é gerar mais valor para os diversos negócios. “Em um mundo cada vez mais dinâmico, as fintechs oferecem flexibilidade e agilidade, contribuindo para transformar negócios tradicionais, dando acesso a fluxos financeiros de um modo eficiente e customizado”, conclui.
Carlos Oliveira, diretor executivo da ABFintechs. Crédito: arquivo
Apesar de o termo fazer referência direta às fintechs, não apenas elas estão engajadas na oferta do BaaS. Muitos dos chamados “bancos tradicionais” já adaptaram seus portfólios e, mostrando-se tão inovadores quanto os novos entrantes, investem na oferta voltada ao mercado B2B. Um exemplo está no banco BV, que, por meio da plataforma BV Open – responsável por distribuir os serviços do banco por meio de APIs –, encerrou o primeiro semestre de 2023 com mais de cem parceiros de diversos segmentos e mais de 112 milhões de transações realizadas.
Isaac Sidney, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), ressalta a importância da competição no mercado e lembra que os bancos fazem parte da transformação digital do setor: “Ao longo de mais de três décadas, os bancos brasileiros estão na vanguarda da tecnologia bancária mundial. O setor introduziu no dia a dia das pessoas importantes mudanças, como o chip nos cartões de crédito, os tokens, a biometria, o internet banking e o mobile banking. Somos transformacionais e geracionais”. 
Isaac Sidney, presidente da Febraban. Crédito: Febraban
A tecnologia agregada ao mercado financeiro por meio das techs também encontra oportunidades no beyond banking, movimento pelo qual o conceito de ‘banking anywhere’ ganha significado à medida que os bancos investem em uma abordagem multifacetada que visa enriquecer a experiência do cliente e estabelecer relacionamentos mais profundos e duradouros, para além das ofertas financeiras. A estratégia tem se consolidado no mercado graças a um reposicionamento de marca no qual o termo “banco” tem sido substituído pela expressão “super app”.
Ciente do impacto dessas e de outras transformações digitais que começam a se consolidar no ecossistema com a chegada do real digital e o amadurecimento do open finance, o presidente da Febraban destaca que o mais importante é que a tecnologia se desenvolva sempre a serviço da sociedade. “Com ela, tornamos mais democrático o acesso aos serviços financeiros”, finaliza.
As oportunidades de negócios geradas no cross industry do mercado de seguros com o varejo é um dos temas abordados na trilha Banking Anywhere, da Cantarino Brasileiro. Alexandre Leal, diretor técnico e de estudos da Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg), falou sobre essa estreita relação e suas oportunidades em matéria para a revista digital. Clique aqui para baixar o material.

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