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A Índia pode ser um exemplo melhor para a evolução dos bancos no Brasil que a China

Por Cida Vasconcelos

Índia é conhecida como a maior democracia do mundo, uma das economias que mais cresce, e é uma nação jovem que deve colher dividendos demográficos nas próximas décadas. O que não é tão conhecido é seu ritmo e escala sem precedentes de adoção digital.

Os fatores que impulsionaram isso foram a confluência da oferta de banda larga, preços acessíveis dos dispositivos móveis nativos, implantação rápida de 4G, e fatores de demanda, tais como adoção rápida da tecnologia móvel em todos os níveis sociais, segundo relatório do World Economic Forum. Este rápido crescimento inclui um aumento de dois dígitos chegando  a 627 milhões em 2019, alavancado principalmente pela adoção da internet nas áreas rurais, informou a agência de pesquisa de mercado Kantar IMRB.

Neste contexto, a Índia pode ser um exemplo melhor para a evolução dos bancos no Brasil do que a China. Seu cenário político e econômico guarda mais similaridades com o nosso e podemos usar a sua experiência como pistas e dicas do que pode funcionar ou não nas nossas escolhas em uma evolução tão dinâmica como a que o mercado financeiro vem atravessando.

Esta é uma história inspiradora de sucesso para instituições financeiras, fintechs e governo.

A Índia atravessou uma série de etapas muito interessantes que aceleraram a adoção de serviços financeiros digitais por uma população que já atravessou os 1,37 bilhão e será 8% maior que a chinesa (1,39 bilhão) até meados de 2030.

A combinação de fatores que aceleraram – mais de 1 bilhão de pessoas bancarizadas em cerca de 10 anos – a adoção de serviços financeiros digitais é o chamado India Stack. 

Composto de processos, iniciativas e decisões governamentais que vão de instituições de micro-financiamento, passando por grupos de self-help até resoluções do governo como as contas Jan Dhan e o Adhaar ID, este sistema se mostrou eficiente e efetivo na inclusão financeira da população em todas as classes sociais.

Uma das bases desta bancarização é a chamada tríade JAM, que é composta de:

  1. J – Contas Jan Dhan: Pradhan Mantri Jan Dhan Yojana (PMJDY), é um programa de inclusão financeira do governo da Índia, lançado pelo Primeiro Ministro Indiano Narendra Modi em 28 de agosto de 2014. Aplicável à população de 10 a 65 anos, visa expandir e tornar acessível o acesso a serviços financeiros, como contas bancárias, remessas, crédito, seguros e seguros e pensões. Este programa entrou para o Guiness Book por ter o maior número de contas abertas em um único dia, na sua inauguração, com mais de 18 milhões de contas e até junho de 2018 já eram mais de 318 milhões de contas, movimentando mais de US$12 bilhões.
  2. A – Aadhaar ID Biométrico: uma versão com esteroides do nosso CPF. Trata-se de um número único de identificação, com 12 dígitos, que está linkado com dados biométricos e demográficos e inclui praticamente toda a população indiana. Hoje são mais de 1.2 bilhões de Aadhaar ID, englobando 99% da população adulta e que identifica unicamente cada pessoa além de conectar as contas do beneficiário. É uma identidade digital provida pelo governo e que conecta todas as informações, incluindo as financeiras, de toda a população. O Aadhaar ID, como identificador único, cria segurança, evitando a duplicação de beneficiários e assegura que o dinheiro está chegando à pessoa correta. 
  3. M – Adoção Celular (Mobile adoption): o governo indiano incentivou o acesso celulares e conectividade para todos, tendo, hoje, o alcance chegado a mais de 1.1 bilhão de conexões móveis, com 80% de penetração sendo este o canal para acesso a contas, para realizar transferências e compartilhar informação.

Além disso, há o Direct Benefit Transfers (DBT), Transferência Direta de Benefícios, foi também outra medida do governo indiano, em 1 de janeiro de 2013, que permitiu alterar o mecanismo de transferência de subsídios. Este programa tem como objetivo transferir subsídios diretamente para as pessoas através de suas contas bancárias. Espera-se que o crédito de subsídios em contas bancárias reduza vazamentos, atrasos etc.  DBT suporta 437 esquemas de 56 ministérios e processou mais de USD 119.68 bilhões desde o início da operação.

Hoje, 90% da população da Índia tem uma identidade Aadhar única, essencial para atender aos requisitos de conhecer seu cliente (KYC) contra a lavagem de dinheiro. Nos últimos quatro anos, 330 milhões de novas contas bancárias Jan Dhan foram abertas. A penetração móvel deverá atingir 90% até 2020. A penetração da Internet aumentou e o uso de pagamentos digitais também está aumentando significativamente.

Das principais lições que podemos tirar da experiência indiana, podemos ressaltar que as empresas financeiras devem entender o mercado e estruturar os produtos de acordo, priorizar a alfabetização financeira e parceria entre governo e fornecedores de vários produtos financeiros.

Em próximos artigos, seguiremos falando dos avanços e experiência indianas para que estas lições possam ajudar o nosso próprio desenvolvimento. Falaremos sobre pagamentos digitais, sistemas de saques instantâneos e muitos outros produtos. Aguardem.

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