2020 é o início do fim do dinheiro físico?

2020 é o início do fim do dinheiro físico?

Por Wagner Gomes Martin*

O ano de 2020 pode ser considerado como o mais surpreendente da história. A pandemia da Covid-19 se tornou um divisor de águas na história, transformando a realidade de todos em várias frentes. E a aceleração digital do ecossistema financeiro é, sem dúvida, uma prova clara disso. 

Embora a pandemia tenha impulsionado a digitalização, podemos reconhecer que o dinheiro em espécie já estava em um contexto de mudança. De fato, é uma prática que começou em meados da década de 1990 e foi evoluindo gradualmente até ganhar impulso na forma de pagamentos eletrônicos. 

É assim que a Internet das Coisas (IoT), aplicativos móveis, o avanço nas criptografias de alta segurança e outros fatores levaram esse ecossistema a tomar forma e amadurecer a ponto de questionar a validade do dinheiro como tal. 

Na América Latina, já existe um entendimento maior da necessidade de migrar para um modelo de pagamento digital e isso significa que os países precisam tomar decisões para fazer com que o pagamento seja assumido por todo o ecossistema, para que todos os seus membros possam participar. 

Segundo a Pesquisa Febraban de Tecnologia Bancária 2020, realizada pela realizada pela Deloitte, cerca de 74% das transações bancárias feitas por pessoas físicas foram realizadas por canais digitais em abril, um mês após o início da quarentena e das medidas de isolamento social para o combate da covid-19 em grande parte do país. Além disso, no mesmo período, as operações bancárias caíram 53% nas agências e 19% nos caixas eletrônicos, com as pessoas evitando sair de casa e correr o risco de se contaminar com o vírus. 

Coronavírus vs. dinheiro 

Hoje, a contingência causada pela Covid-19 é um motivo para continuar apostando nessa mudança em favor dos pagamentos móveis, desta vez sob a proteção de ações remotas e sanitárias que favorecem a diminuição da curva de contágio em todo o mundo. Certamente, o sistema tradicional de pagamentos se tornou uma ameaça à saúde pública, mesmo que fossem cartões, uma cena em que os especialistas preveem uma substituição mais imediata, em grande parte devido ao uso de soluções móveis. 

Prova disso é que, nesses dias de quarentena, vimos um aumento na aparição de soluções digitais, tanto nos bancos tradicionais quanto nos mercados locais. Pagamentos digitais, carteiras eletrônicas e mais serviços estão em alta. Tanto que, em apenas três meses, a VeriTran registrou um aumento de 180% no uso de carteiras digitais na América Latina. 

O melhor aliado: o smartphone, que assumiu o centro do palco como um canal para serviços bancários móveis e pagamentos digitais; imediata, simples e segura, embora essa última qualidade ainda não seja totalmente aceita por grande parte da população. A pesquisa da Febraban e Deloitte também comprovou que transações feitas por dispositivos móveis representaram 44% do total de operações bancárias feitas em 2019 no Brasil, o que evidencia um movimento de alta na demanda por serviços em aplicativos. 

Novo normal 

Em todo o mundo, os governos geraram estratégias diferentes e implementaram várias políticas para combater o impacto global que afeta vários setores do mercado e reativar a economia sem ignorar as medidas sanitárias necessárias na nova realidade que nos espera. No entanto, apesar de uma grande diversidade de ideias, nenhuma dessas ações visa moderar a retirada ou o uso de dinheiro. 

É fato que a situação do coronavírus colocou sobre a mesa a pressa de transformação no sistema financeiro, e é uma realidade que, embora tenha havido uma aceleração no processo, ainda há um longo caminho a percorrer. 

A primeira coisa a construir é um bom ecossistema em que todos os atores estejam envolvidos, pensem em suas diferentes necessidades – já que os bancos não serão iguais aos das empresas locais, por exemplo – e lembre-se de que essa atmosfera digital já contava com estímulos anteriores que permitiram falar sobre uma mudança necessária no comportamento financeiro. Da redução da economia informal à entrada na nova abertura dos mercados financeiros. 

Também deve ser levado em consideração que um ecossistema financeiro não é apenas a maneira de coletar e pagar; um ecossistema financeiro digital completo, universal e transparente inclui bancos, empresas, pontos de venda, emissores de cartões de crédito, clientes, entre outros. O setor deve priorizar seu desenvolvimento e precisa considerar três fatores principais para fazer isso: 

1. Regulamentação governamental: o setor financeiro é um serviço público e os governos devem promover que os sistemas de pagamento digital tenham um padrão de transparência; 

2. Um modelo de negócios claro que permita reduzir o custo das tarifas: as empresas precisam sentir que a diferença entre cobrar em dinheiro e cobrar com mídia digital é praticamente nula. Dessa forma, eles promovem o uso do pagamento digital; 

3. Estabelecer um padrão de integração técnica.

A extinção do dinheiro em espécie está se aproximando? Não, mas é preciso afirmar que estamos diante de um panorama de transformação gradual iminente, uma mudança que não é apenas responsabilidade de empresas ou entidades financeiras, mas também dos governos atuais que trabalham para implementar novas políticas que protegem e incentivam um ecossistema de pagamentos móveis, a fim de fornecer uma solução flexível e pragmática, em tempos de crise ou não.

*Wagner Gomes Martin é diretor de desenvolvimento de negócios da VeriTran

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